Na narrativa do Gênesis Deus fala diretamente ao homem: “Tu poderás comer de todas as árvores do jardim, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deve comer, porque se dela comer, certamente morrerás” (Gen 2, 16-17). É a primeira vez que Deus fala com o homem nesta narração e as suas palavras exprimem uma afirmação positiva. O homem recebe como dom todas as árvores, inclusive a árvore da vida, que se encontra no meio do jardim (v. 9). A árvore da vida testemunha que Deus criou o homem fundamentalmente em vista da vida, a qual está à disposição do homem e lhe pertence como realidade dada por Deus. O fato de não permitir que o homem não coma da árvore, Deus quer revelar-lhe que ele é humano e que sua vida deve ser como humano, não pode pretender ser Deus. Toda vez que o homem tiver essa pretensão morrerá, cairá no vazio.
Na aceitação da sua verdade, renunciando ser o princípio e o fundamento de si mesmo, o homem acolhe a possibilidade e o convite de entrar em comunhão com Deus. Na acolhida da própria existência como graça, o homem encontra Deus e chega a realizar-se como ser humano. A limitação imposta por Deus no (v. 17) não é uma simples proibição, cuja transgressão incorreria na morte, mas representa a possibilidade de reconhecer e acolher com alegria a diversidade do outro e o próprio limite. Todas as vezes que o homem tiver a pretensão de acumular tudo para si, encontrará a morte. Com esse mandamento de Deus, o homem encontrará a sua verdadeira liberdade. As duas árvores representam dois aspectos de Deus e dois modos de aproximação da realidade. Se por um lado, a árvore da vida representa Deus como graça que assegura o futuro e a plenitude do homem, por outro, a árvore do conhecimento do bem e do mal simboliza a capacidade humana de escolher livremente e responsavelmente. Perante esta árvore, o homem ultrapassa o nível instintivo, que no texto é representado em relação com os frutos das outras árvores do jardim: “Agradáveis aos olhos e bons ao paladar” (Gen 2,9), os quais suscitavam o apetite, ou seja, um tipo de tendência instintiva em relação àquilo que satisfaz as necessidades e os desejos. Diante da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem deve agir de maneira distinta, buscando uma escolha livre e responsável.
O homem descobre que nem todas as árvores do jardim são iguais e que sua existência, necessariamente, não está fundada exclusivamente no comer. É justamente aí que nasce a liberdade e a responsabilidade dele diante de Deus e das coisas criadas. Perante a árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem se coloca em um universo de gratuidade absoluta, fundado sobre o valor originário e determinante da existência, isto é, da comunhão transparente com Deus, antes de qualquer divisão entre bem e mal. Deste valor fundante e originário dependerão todos os outros
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