Este blog é um canal de comunicação e partilha entre católicos e não-católicos, com o intuito de criar um espaço de partilha e crescimento espiritual. Participem com sugestões, escritos teológicos, questionamentos e dúvidas sobre a doutrina ou catequese da Igreja, mandem testemunhos e comentários, teremos grande alegria em crescermos juntos na fé.







quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vocação e liberdade: o convite de Deus direcionado ao coração do homem

O mês de Agosto é especialmente escolhido pela Igreja, para que se reflita sobre o mistério da vocação. Aqui nos deparamos com dois termos interessantes que vale a pena ser explicados um pouco melhor para que sua compreensão seja um tanto mais concordante com o que pensa a Igreja. Primeiro, a palavra mistério cujo significado que se aplica corriqueiramente é de algo escondido, ou que existência não é palpável, ou mesmo, inalcançável pelo ser humano.
Ora, na verdade, mistério equivale muito mais a algo que nós não o compreendemos bem ou bastante, mas é sim, algo visível, palpável, existente. Por exemplo, é um mistério para a grande maioria dos seres humanos o que faz o sol nos dá o calor; não o sabemos em detalhes; é pois, um mistério. Já os cientistas, que se dedicam a investigar este fenômeno – como ou do que se compõe este elemento, o que faz com que ele nos presenteie com o calor que todos nós sentimos e que mesmo nos é útil – sabem algo a mais que nós; para eles, não tão misterioso quanto o é para nós. Portanto, mistério nem sempre é algo totalmente escondido, mas sim algo com elementos não totalmente compreensíveis.
É nesta perspectiva, que nos aproximamos do segundo termo que é justamente vocação, normalmente entendida como predestinação, ou alguma coisa nesse sentido. Mas não é assim que a compreendemos nós, os cristãos. Vocação é antes de mais nada, uma resposta do ser humano a um chamado, que ele sente em seu coração, feito pelo próprio Deus. Vocação, diante disso, é como que a conseqüência do estabelecimento de uma relação entre o homem e Deus; como relação, na vocação ou na resposta vocacional está necessariamente implícita uma importante característica humana, a liberdade. Esta é fundamental em se tratando da decisão vocacional. Como nas relações entre nós, também na relação com Deus, se não há liberdade, não há verdadeira amizade, mas submissão. Portanto, vocação e liberdade caminham juntas. Não podemos verdadeiramente responder ao chamado de Deus se não nos sentirmos plenamente livres.
E por que essa preocupação em ser livre para responder de forma verdadeira ao chamado de Deus? Porque o chamado divino, não sendo de forma alguma imposição, é sempre um convite. E convites são aceitos, em sua maioria, se há alguma afinidade entre o que o convida e o que é convidado. Respondemos, pois, ao chamado de Deus, se temos alguma relação verdadeira com Ele; se não, tal convite nem sequer é ouvido ou não lhe negada a atenção merecida. Na verdade, dá-se atenção verdadeira a quem se ama; se há verdadeiro amor, há verdadeira atenção; o coração sempre arruma um tempo para quem nele habita. É por isso que Deus quando chama, dirige-se ao coração do homem. Quando, pois, o coração humano está aberto a Deus, então se responde livremente ao Seu chamado; quando não, este é simplesmente ignorado.
Temos um bonito exemplo disso sem dúvida com Samuel (cf. 1Sm 3,1-18). Ele habitava no santuário do Senhor. Podemos imaginar então que Samuel estava predisposto a ouvir a voz de Deus, se lhe fosse dirigida, porque, de algum modo, ele cultivava certa amizade com Deus. E assim acontece. O Senhor lhe chama, ele sente seu coração arder, mas sem saber bem do que se trata. Por ainda não conhecer mais ‘profundamente’ o Senhor quando é chamado vai ao encontro de Eli, o sacerdote. Este, por sua vez, discernindo aquele momento, o recomenda: se Ele te chamar outra vez diga ‘aqui estou’. E assim se fez. Percebemos bem explicitado o aspecto misterioso da vocação: Deus chama, escolhe e sem compreender muito bem nós o escutamos. Mas que tal escuta se efetive precisamos da ajuda de outros; sozinhos talvez não conseguiríamos discernir bem se o que sentimos é realmente Deus nos chamando ou são vozes adversas querendo nos confundir. Pode ser apenas imaginação. No caso de Samuel, quem ocupou essa função de intermediário no seu processo de discernimento vocacional foi o sacerdote.
Não por outro motivo, precisamos – para responder com mais propriedade ao desejo vocacional – que alguém já mais “conhecedor de causa” nos ajude. Esse pode ser um padre, religioso ou religiosa ou alguém que reconhecidamente seja capaz de, sensível aos apelos de Deus, possa ajudar outros a escutá-los também. Com efeito, a orientação que se recebe é sempre orientação, a decisão cabe a cada um. Pois nós somos livres para decidir se queremos ou não responder e que tipo de resposta dar àquilo que acreditamos ser “um chamado de Deus”, palpitante em nosso coração. Assim, fica o convite e a recomendação: não deixe de escutar a voz de Deus em seu coração; responda ao seu convite; arrisque-se. Decidir-se vocacionalmente é sempre arriscar-se nas prodigiosas, misteriosas, mas também incomparáveis e carinhosas mãos de Deus.
Fr. Antonio José Mouzinho de Sousa, SAC

2 comentários:

  1. Querido irmão Antonio, que bom q um dia tu pudestes ouvir essa voz de Deus em sua vida! Que pela Graça e Misericordia de Deus possamos ouvi-Lo a cada chamado! Deus vos abençoe hj e sempre! bjs

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  2. Olá Karina, saudações!
    olha, é certamente bom
    e, mais que isso,
    é graça, poder ouvir essa voz.
    Oxalá, também outros tantos possam
    ouví-la.

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